
SINOPSE: Hoje é o aniversário de Leonard Peacock. Também é o dia em que ele saiu de casa com uma arma na mochila. Porque é hoje que ele vai matar o ex-melhor amigo e depois se suicidar com a P-38 que foi do avô, a pistola do Reich. Mas antes ele quer encontrar e se despedir das quatro pessoas mais importantes de sua vida: Walt, o vizinho obcecado por filmes de Humphrey Bogart; Baback, que estuda na mesma escola que ele e é um virtuose do violino; Lauren, a garota cristã de quem ele gosta, e Herr Silverman, o professor que está agora ensinando à turma sobre o Holocausto. Encontro após encontro, conversando com cada uma dessas pessoas, o jovem ao poucos revela seus segredos, mas o relógio não para: até o fim do dia Leonard estará morto.
TÍTULO: Perdão, Leonard Peacock
AUTOR: Matthew Quick
EDITORA: Intrínseca
PÁGINAS: 224
ANO: 2013
É incrível a maneira como Matthew Quick consegue colocar a mostra os lados mais ocultos do ser humano. Aquela parte que todos nós temos, mas nos recusamos a admitir. A insegurança, o medo e a própria loucura humana, e de como a sociedade pode ou não nos pressionar a deixar de ser aqueles que realmente somos.
"Perdão, Leonard Peacock" é mais do que uma crítica direta e extremamente dura ao mundo de hoje, é uma prova de que só nós podemos decidir o que queremos para nós mesmos. Não esperem uma leitura leve semelhante a "O Lado Bom da Vida". O aprofundamento de Quick nas questões emocionais do protagonista foi ainda maior e só me fez admirar ainda mais o trabalho do autor, que pode não ser excepcional, mas é de imensa qualidade.
A história é narrada por Leonard Peacock, um garoto perturbado que acorda em seu aniversário determinado a matar seu melhor amigo e depois se suicidar até o fim do dia. Antes, porém, ele deseja entregar quatro presentes às pessoas que mais marcaram a sua vida, de um jeito ou de outro. Basicamente, o livro se passa num período de 24 horas, combinado com lembranças contadas pelo protagonista e algumas "Cartas do Futuro". Essa cartas nada mais são do que uma maneira que o professor de Leonard, Herr Silverman (que, por sinal, é uma dessas quatro pessoas mais importantes na vida do rapaz), encontrou para fazê-lo crer que terá um futuro feliz. Leo as escreve para si mesmo, como se fossem vindas de alguém que ele viria a conhecer no futuro, tal como uma esposa, um amigo e até mesmo uma filha.
Apesar de primeiramente tratarmos Leonard como um total louco suicida, o personagem é muito bem construído. Você passa a se preocupar com ele a medida que vai descobrindo mais de seu passado e dos motivos que o fizeram querer se matar. E acredite, Leo não teve uma vida fácil. Desde o começo do livro, ele nos fala sobre sua mãe ausente e sobre as dificuldades que teve que enfrentar. E a maior curiosidade que o leitor tem enquanto lê é a razão pela qual ele deseja matar seu ex-melhor amigo. Asher. E devo dizer que foi uma grande sacada por parte do autor nos chocar com tal revelação em um dos momentos mais emocionantes da história.
E não, o livro não se limita apenas ao conflito emocional do garoto o tempo todo. Leonard é extremamento crítico e sarcástico e faz comentários sobre a sociedade em todo capítulo. O próprio livro tem um formato diferente para apresentar as opiniões de Leonard com notas de rodapé. A sua narrativa chega a ser um alívio cômico em certos momentos, mas é certo que tudo que ele fala tem uma carga muito crítica e por vezes irônica. Além disso, não há como negar que Leo é deveras maduro e inteligentíssimo para um jovem de 17 anos. Os outros da sua classe seguem as ideias padrão, mas ele as rebate e cria seus próprios argumentos. Por incrível que pareça, poucos protagonistas me conquistam totalmente, e Leonard conseguiu fazer isso com muita naturalidade, sem em nenhum momento tornar-se forçado ou exagerado.
Falando nisso, outro personagem admirável é Herr Silverman, professor de Leonard. O professor talvez tenha sido um dos únicos a notar algo de errado com Leo e se preocupar com o comportamento estranho que o menino vinha tendo nas últimas semanas. Com o tempo, sua presença na história adquire uma importância excepcional para o desenrolar da trama.
No final das contas, percebemos que talvez se alguém desejasse um "Feliz aniversário!" ou simplesmente dissesse um mero "Olá!" à Leonard tudo poderia ter sido diferente. É aquela velha questão de como as palavras tem poder. Ele queria ser salvo, ele queria que alguém compreendesse pelo que ele estava passando e o desse a mão. Mas quantas vezes na vida as pessoas ignoram pedidos de ajuda? Quantas vezes deixamos de nos preocupar com o outro por puro orgulho? Às vezes as pessoas estão passando por difíceis problemas e nos fazemos de cegos. Seria isso certo? É esse apelo pela humanidade que mais me cativou durante a leitura.
E se Leonard estará ou não morto até o fim do dia, isso vocês descobrirão lendo.
Recomendo imensamente o livro, principalmente se você já aprecia o estilo da escrita do Matthew Quick. É impossível ler sem refletir sobre tudo aquilo e trazer isso para a nossa própria realidade. E então, será que não há pessoas por aí apenas esperando para serem salvas?
NOTA:
Nenhum comentário:
Postar um comentário